quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

PEDRAS PARIDEIRAS

Um fenómeno espantoso, talvez único em todo o planeta.

Na aldeia de Castanheira, perto de Arouca, na serra da Freita, há pedras a parir pedra. O povo da região chama-lhes as pedras parideiras. Na Castanheira, a pedra-mãe, é o granito. "As jogas são as pedras paridas. Elas vão crescendo devagar dentro das lajes e depois saltam fora" - garante Manuel Tavares, agricultor. "E do sítio de onde elas saem fica um pretinho por baixo, sempre um vãozinho preto e depois torna outra joga a crescer com o tempo e torna a saltar".
Às jogas, os miúdos de Castanheira chamam ovelhas e os geólogos encraves. Fernando Noronha, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, é de opinião que a autarquia de Arouca e o povo da Castanheira são entidades fundamentais para ajudar a salvar estes "importantes monumentos geológicos: coisa rara que não se pode deixar destruir".
Para Fernando Noronha, a chave para a compreensão das pedras parideiras aconselha a fazer uma fantástica viagem no tempo: "Temos de imaginar uma coisa com muitos milhões de anos. Se tivermos essa capacidade, podemos ver uma rocha desde a nascença quase até à morte. Simplesmente ela nunca morre, porque reincarna noutra. É um ciclo litológico". E conclui: "Como há rochas ígneas, rochas sedimentares e rochas metamórficas, elas nunca morrem. Uma quando acaba dá lugar a outra". O granito da Castanheira, aquando da sua formação ou instalação, terá agregado no seu seio restos de rochas preexistentes. Esses materiais deram origem a formações nodulosas de predominância biotítica (encraves ou jogas). Já depois disso, há 320 milhões de anos, o granito terá sofrido poderosas deformações. As pressões que estiveram na origem deste processo exerceram-se também sobre os encraves e determinaram o seu achatamento.
Entretanto, as massas graníticas que afloraram à superfície do solo vão-se, nos nossos dias, desagregando e libertam os encraves. E Fernando Noronha conclui: "O partir do granito é que vai libertar os seus prisioneiros que são os encraves, processo facilitado pela acção erosiva".
Adaptado de:
REPORTAGEM publicada por Augusto Baptista na revista "Notícias Magazine" em 16 de Maio de 1993
In http://arouca.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_08.html

1 comentário:

Edmundo Bolinhas disse...

A geodiversidade do nosso território não pára de nos surpreender!
Este peculiar fenómeno, com uma forte implicação cultural nas gentes daquela região, motivou-me para uma breve pesquisa sobre o mecanismo geológico do ”parir”.